Mensagem de Natal 2018: Crer em Deus é ultrajante.

Finalmente a humanidade conquistou sua voz ativa. Na prática, graças à internet todo ser humano pode falar e ser ouvido. Pode exercitar publicamente sua inteligência e opinar sobre sua vida em sociedade e sobre seu habitat.

Discutimos sobre política, imigração, direitos humanos, respeito às escolhas sexuais, empoderamento feminino e proteção do meio ambiente. Pregamos insistentemente a tolerância, mas continuamos a responder ironicamente a cada opinião contrária e rebaixamos aqueles que pensam diferente ou ainda não alcançaram nossa iluminação. É engraçado, porque há pouco tempo sequer tínhamos as opiniões que temos hoje. Parece-me que o que importa não é alcançarmos aquilo pelo que lutamos, ao contrário, o que importa é estarmos certos, ou sermos os convencem os demais do que achamos ser certo.

Todavia é claro, que inerentemente a nós mesmos, possuímos um brilhantismo. De fato acredito que em breve, graças a esse brilhantismo, avançaremos mais, iremos à Marte, retornaremos recorrentemente à Lua, aumentaremos nossa longevidade, venceremos o HIV e encontraremos formas eletroquímicas mais eficientes de transformação e armazenamento de energia. Deus está obsoleto, não é mais necessário.

No entanto, ainda existem lacunas, regiões além de nossas habilidades. Um exemplo disso é nossa incompetência em alcançarmos o equilíbrio de vida notado na natureza do meio ambiente. Quando excluímos o homo sapiens do universo, observamos um contínuo movimento de vida, de evolução e de conservação. Quando incluímos o homo sapiens no universo surge a destruição arbitrária de si mesmo e do que o rodeia. É interessante notar que uma das maneiras mais conclusivas de se identificar a presença do homem na natureza é pelo rastro de morte que ele deixa. Embora seja óbvio que o homem pode intervir positivamente no meio ambiente, quando ele o faz, sua presença não se nota, pelo simples fato de que o que ele fez de bom, leva a natureza a voltar ao estado original anterior a ele mesmo.

Sobretudo cremos, que preencheremos essas lacunas, falta nos apenas tempo e consenso. Somos tão auto suficientes que Deus se resume a uma idéia tribal retrógrada, incompatível com nossa excelência, formada pelo conceito de que toda verdade deve ser provada e compreendida sob nosso domínio de conhecimento. Mas como também possuímos a compreensão do bem, a necessidade de equilíbrio emocional, assim como a noção de espiritualidade, desenvolvemos idéias mais compatíveis com a evolução do nosso intelecto e que nos permitem nos conectar com o nosso desejo inato de plenitude. Algumas dessas idéias são mais antigas como a meditação transcendental e outras mais novas como o mindfulness. Mas para mim, a substituição da idéia de Deus por outras idéias apenas atestam que o sagrado também nos é natural e imprescindível. Na verdade não rejeitamos contundentemente a Deus, rejeitamos a consequência dessa crença, a aceitação da nossa pecaminosidade, que em última instância leva-nos a morrer.

A morte porém, tem perdido seu papel de vilã. Os que se julgam mais esclarecidos, os que dizem lidar melhor com ela, acreditam pateticamente que “a morte faz parte do ciclo natural da vida” – talvez uma das frases mais incoerentes do homem. Se a morte não é mais má, é indubitavelmente um atestado de nossa finitude. Ou seja, tudo que fazemos, tudo que criamos, tudo pelo que somos capazes, todas as nossas conquistas sucumbem a um tempo de vida menor do que 150 anos. Estima-se que o homem moderno surgiu há cerca de 200 mil anos, e pelo que observamos desde então, a morte tem imperado sobre ele. Tanto poder, uma capacidade de abstração, criatividade e comunicação jamais vistas, uma aptidão para a arte, para o belo, uma engenhosidade fantástica, e mesmo assim a morte prevalece. É comum morrermos, mas ao observarmos do que somos capazes, não é natural que morramos.

Ainda que tenhamos superado psicologicamente a morte, aceitar que Deus existe é ultrajante. Pois como pode alguém existir e não estar sujeito à morte e que esse alguém não seja nós? Aceitar que Deus existe é revelar nossa arrogância, é aceitar que embora cultos e eloquentes, somos maltrapilhos errantes, sujos, mal cheirosos e doentes, em contagem regressiva para deixarmos de ser.

Pessoalmente, eu não me conformo com uma existência tão curta. Não me conformo com tudo que é possível ser feito e ter tão pouco tempo. Eu não me conformo que a vida do homem seja tão banal. Para mim é futilidade demais aceitar que esse pulsar que me faz respirar não é eterno. Eu não me conformo com a consolação de “deixar um legado para a humanidade”, ou com “construir um futuro melhor”. Eu não me conformo com a morte. Eu sei que a morte é comum, mas não é natural. Por isso, o meu testemunho é: Eu creio em Deus, eu creio que Jesus Cristo é o filho unigênito de Deus. Eu testemunho que ao me render a Deus, fui redimido da morte.

Eu testemunho que não foi a humanidade que me ensinou a aceitar os outros e suas diferenças, foi Deus. De fato eu nunca aprendi a ser tolerante, ao contrário a tolerância sempre foi um comportamento natural, depois que aprendi com Deus a amar a todos, sem exceção e incondicionalmente.

Foi através do temor a Deus que aprendi a amar a ciência. É em Deus que me inspiro diariamente a criar, a construir, a inventar, a desenvolver.

Foi pela fé em Jesus que aprendi a não me vingar, a não retribuir com o mal, a amar os que me odeiam, a não mentir e a dar o melhor de mim em tudo que faço, mesmo que ainda erre mais do que acerte.

Hoje as vozes engajadas nas redes sociais promulgam o respeito, o diálogo, a não discriminação, a receber os outros como são, a igualdade de direitos, a reparação pelos erros históricos, a proteção do meio ambiente, o cuidado pelos animais, o foco no ser humano antes do lucro e a redução do consumo irresponsável. Vozes hipócritas! Todos estes princípios eu aprendi ao crer em Deus.

Ao crer em Deus, aprendi a perdoar, a aceitar minha natureza errática, os meus constantes tropeços, a me arrepender, a pedir perdão, mas nunca me arrepender de perdoar.

Ao crer em Deus, conheci outros que creem e passamos a andar juntos, cambaleando, caindo ali e aqui, por vezes sujos e nem sempre sóbrios, mas coerentes.

Por outro lado, refutar a existência de Deus é um ato infantil de rebeldia, é aceitar passivamente nossa condenação à morte, e é também o comportamento comum aos homens que certos de suas capacidades, assassinaram a Cristo.

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